Evento foi realizado pela Abicalçados em parceria com a Assintecal e reuniu grandes nomes da área
O Conexão Origem Sustentável, evento realizado pela Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) e Associação Brasileira das Empresas de Componentes para Couro, Calçados e Artefatos (Assintecal) no último dia 22, foi dedicado a pensar - e repensar - as práticas ESG na cadeia produtiva do calçado. Trazendo cases multissetoriais, o evento aconteceu no Centro de Eventos Faccat, em Taquara/RS.
Na abertura do evento, os mais de 300 participantes foram saudados pelos dirigentes das entidades realizadoras. “Hoje celebramos um momento importante para o setor calçadista. O Conexão Origem Sustentável consolida uma iniciativa que convida todo o ecossistema, de fornecedores a produtores, a refletir e agir sobre sustentabilidade de forma integrada”, destacou o presidente-executivo da Abicalçados, Haroldo Ferreira. Representando a Assintecal, seu presidente, Gerson Berwanger, ressaltou a importância do Origem Sustentável, programa promovido em conjunto pelas entidades. “Desde 2013, com o Origem Sustentável, Abicalçados e Assintecal vêm promovendo uma cultura ESG em nossa cadeia. Não se trata apenas de certificação, mas de uma rede comprometida com práticas sustentáveis reais e transformadoras. Eventos como este são essenciais para a troca e fortalecimento da nossa comunidade”, disse.
O primeiro case da tarde foi da marca francesa com forte conexão com o Brasil, a Veja. Na oportunidade, Luciana Pereira, diretora de Sourcing & RH da multinacional, falou sobre a trajetória da empresa como referência em comércio justo e olhar integrado dos parceiros ao longo das principais cadeias produtivas (algodão, borracha nativa, PET-Reciclado e couro orgânico). Com duas décadas de mercado, a marca francesa possui forte apelo de sustentabilidade, produzindo mais de 4 milhões de pares por ano que são comercializados em cerca de 100 países.
Os produtos Veja são desenvolvidos com borracha nativa da Amazônia, por meio da extração sustentável do látex. Desde 2004, segundo Luciana, foram compradas mais de 3,5 mil toneladas do material, pelo qual é pago cinco vezes o valor de mercado (R$ 25 o quilo). Somente na cadeia da borracha, são mais de 2,5 mil famílias beneficiadas nos estados do Acre, Amazonas, Pará e Mato Grosso. Outro material importante utilizado na fabricação é o algodão orgânico certificado, pelos quais é pago três vezes o valor de mercado (R$ 29 o quilo). Desde 2004, foram compradas mais de 1,8 mil toneladas de algodão, beneficiando 1,3 mil famílias em estados do Norte, Nordeste, Centro-Oeste e do Peru. Já o couro utilizado nos cabedais é 100% rastreável, proveniente de rebanhos de fazendas no Rio Grande do Sul e Uruguai. O PET reciclado utilizado em forros é proveniente de 200 catadores de 13 cooperativas. Pelo quilo do produto é pago 2,4 vezes mais o valor de mercado (R$ 12 o quilo). Somente em 2024, foram recicladas mais de 6 milhões de garrafas PET”, explicou Luciana.
Painel Ambiental
Na sequência, foi a vez do Painel Ambiental, com a participação de Breno Aguiar de Paula, gerente de Sustentabilidade do Grupo Heineken, e Tiago Agne, gerente de Sustentabilidade da SLC Agrícola. Com 22 marcas e 14 cervejarias no Brasil, a Heineken tem como desafio promover a sustentabilidade do portão para fora das fábricas, com bares, restaurantes e consumidores, com os quais trabalha a conscientização e o desenvolvimento de produtos retornáveis. Já internamente, a fabricante de bebidas tem metas arrojadas como, até 2040 zerar a emissão de carbono nos seus processos produtivos. No que diz respeito à circularidade, a Heineken busca ter 43% dos volumes vendidos em formato retornável até 2030. No uso de recursos naturais, a marca quer reduzir o uso médio de água para 2,6 hectolitros por hectolitro de cerveja produzida até 2030. Os ingredientes utilizados (lúpulo e cevada), por sua vez, devem ser todos de origem sustentável em cinco anos.
Maior empresa produtora de grãos e fibras do Brasil, a SLC Agrícola trabalha a sustentabilidade como parte do seu negócio, já que precisa de solo de qualidade para o sucesso de seus produtos. Hoje, segundo Agne, 60,8% dos resíduos gerados pelas fazendas SLC são utilizados como biocomposto para o solo, número que deve crescer nos próximos anos. Quanto ao uso de água, Agne contou que 98% do recurso utilizado é da chuva e que a pequena parte hídrica usada para irrigação vem diminuindo. Em 2024, na relação com 2023, o uso caiu 62%. Para os próximos anos, a meta é reduzir em 80% a água utilizada. “Também utilizamos a tecnologia para a sustentabilidade. Na SLC as duas coisas andam juntas. Por exemplo, investimos em máquinas agrícolas que possuem um censor e que aplicam herbicidas apenas nos locais onde existem plantas daninhas, diminuindo o uso desses produtos e, consequentemente, de água”, concluiu.
Painel Social
No painel Social, participaram Deise Branco, gerente de Gente e Gestão da Klabin; Mariana Riskoski Emmerich, especialista em Sustentabilidade da Lunelli; e Kelly Roselaine Valadares, coordenadora estadual dos Projetos ESG do Sebrae RS. Com 23 fábricas, 22 no Brasil e uma na Argentina, a Klabin é líder nacional na produção de papel-cartão, embalagens de papelão ondulado e sacos industriais, também oferecendo ao mercado a melhor solução em celuloses de fibras curtas e longas. Segundo Deise, a empresa sempre teve um olhar para o pilar social do ESG, mas foi a partir da pandemia de Covid, em 2019, que passou a ter ainda mais cuidado com as pessoas. Desde lá foram mais de 80 mil consultas psicológicas. “Temos profissionais especializados para atendimento 24 horas por dia e 7 dias por semana”, contou. Outra ponta do trabalho é a capacitação de líderes para que saibam acolher as pessoas com dificuldades. “Não basta escutar, é preciso acolher”, acrescentou.
A Lunelli, empresa de malhas catarinense que produz mais de 26 milhões de peças por ano, aportou, em 2024, mais de R$ 1,1 milhão em projetos sociais que beneficiaram cerca de 10 mil pessoas. “Temos um papel social muito forte já que estamos presentes em boa parte da vida das pessoas que trabalham na empresa. Desta forma, trabalhamos o cuidado e o afeto com os nossos funcionários”, contou. Entre os projetos realizados, Mariana citou a previdência privada, que dá mais tranquilidade para os colaboradores.
Frisando a importância do trabalho social na competitividade das empresas, Kelly ressaltou que “pessoas felizes entregam resultados melhores”. Tendo escutado, em rodas de conversas, diversas “dores” nessa área, a coordenadora de ESG do Sebrae RS destacou, para os empresários, que o trabalho deve ser mais do que uma “troca financeira”.
Painel Governança
A última, mas não menos importante letra da sigla ESG, foi tratada no último painel do dia. Participaram do bate-papo Mateus Grings, Facilitador de Adoção de Sustentabilidade do grupo alemão SAP; e Luciane Sartori, gerente de Saúde, Segurança, Meio Ambiente e ESG da Randoncorp. Ressaltando que nenhuma empresa cresce no mercado atual sem práticas sustentáveis, Luciane falou da importância da integração de todas as áreas do grupo no fomento das práticas ESG. “Prova que estamos no caminho certo com essa integração é que as práticas de sustentabilidade estão no discurso do nosso presidente Daniel Randon”, destacou. A executiva ressaltou, também, o papel da sustentabilidade na competitividade da empresa. “Hoje, não conseguimos nem passar uma cotação a um cliente europeu se não apresentarmos um impacto de emissão de carbono”, finalizou.
Grings, por sua vez, falou sobre a importância do apoio dos clientes na implantação de soluções de sustentabilidade. Trabalhando com tecnologia e, agora, mais fortemente com a implantação de ferramentas de Inteligência Artificial para a gestão das empresas, a SAP quer ser exemplo para os seus clientes na implantação acelerada de processos de ESG. “O desafio é qualificar os dados para transformá-los em informações relevantes para a IA. Ajudamos os clientes nesse caminho”, disse.
A última palestra do evento foi da Natura, com Allan Scartezini Foster, coordenador de Carbono e Circularidade do grupo. Destacando que, em 2024, foram recuperadas mais de mil toneladas de materiais pós-consumo pela Natura, Foster frisou que, hoje, ser sustentável não basta. “É preciso criar condições para a regeneração da vida e nós temos essa cultura muito presente na Natura”, disse. Segundo ele, diante do desafio, a empresa vem trabalhando em três frentes estratégicas: inovação em produtos, estruturando soluções com novos materiais e formatos de refis para a ampliação da circularidade; preparação de cadeias de valor, garantindo que fornecedores e processos estejam prontos para reincorporar materiais reciclados na cadeia de produção; e programas de logística reversa, mobilizando e engajando toda a rede de consumidores na coleta e no retorno de embalagens para reuso e reciclagem.
Doações
O evento trabalhou com ingresso solidário, com a doação de dois litros de leite por pessoa. No total, foram arrecadados mais de 250 litros de leite, que foram doados para a Associação Beneficente Evangélica da Floresta Imperial (Abefi), de Novo Hamburgo/RS.
Certificações
O Conexão ainda contou com a certificação de quatro empresas no programa Origem Sustentável. Na oportunidade, foram certificadas a Grupo S2 (Diamante), a Ponto a Ponto Bordados (Prata), a Mared Têxtil (Prata) e a Gelissica (Bronze).
O Origem Sustentável é baseado nas melhores práticas internacionais de sustentabilidade, seguindo a diretriz de 104 indicadores distribuídos em cinco dimensões: econômica, ambiental, social, cultural e gestão da sustentabilidade. As categorias certificadas são: Diamante (+80% dos indicadores alcançados); Ouro (+60%); Prata (+40%) e Bronze (+20%).
Durante todo o evento houve uma exposição de empresas com soluções em sustentabilidade, chamada Comunidade ESG, que puderam conversar e apresentar suas soluções para profissionais do setor. Fizeram parte deste espaço: ESG NOW, IBTEC, Pegada Neutra, Fundação Proamb, Instituto Rever, Transduarte, MBA ESG IENH, Triart, Eurolatina Turismo, Dem-Bas Embalagens, Faccat, Ambiente Verde e Ecovalor.
Realizado pela Abicalçados e pela Assintecal, o Conexão Origem Sustentável foi vinculado às ações do Origem Sustentável, único programa de certificação de práticas ESG exclusivamente voltado para empresas da cadeia produtiva do calçado no mundo. A parceria foi do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e Sebrae RS, o patrocínio de Kisafix e da Sicredi, e o apoio da Colorgraf, Dem-Bas Embalagens, Faccat, Ambiente Verde e Ecovalor. A curadoria foi da Conversas Sustentáveis.